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Temas de Saúde

Demência: tipos e manifestações

Pedro Machado dos Santos (Coordenador da Unidade de Avaliação e Reabilitação - Casa de Saúde de Carnaxide) . 10/10/2016

O termo demência serve para descrever um grupo de condições que afetam o cérebro e causam um declínio progressivo do funcionamento mental global da pessoa, comprometendo a memória, o pensamento, o comportamento e, consequentemente, o desempenho na vida diária e nas atividades sociais.

Estima-se que no presente existam 47,5 milhões de pessoas em todo o mundo a viver com demência, e que esse número venha a dobrar a cada vinte anos, passando para 75,6 milhões em 2030 (OMS, 2015). Esta realidade tem vindo a criar um profundo impacto na qualidade de vida e na economia das famílias e das nações, representando nos últimos anos um dos maiores desafios/prioridades de saúde pública a enfrentar (OMS, 2012).


Ao número estimado de pessoas com demência acresce um número muito maior de pessoas com défice cognitivo ligeiro (DCL) - 9,9% a 21,5% de novos casos por ano, em pessoas com mais de 65 anos, com DCL amnésico (Mariani et al., 2007), com uma taxa de progressão para demência entre 10% a 15% por ano (Petersen et al., 1999) e um número correspondente de cuidadores primários e famílias sobrecarregadas e em risco de doenças físicas e psicológicas.


O número estimado de Portugueses com 60 ou mais anos, com demência foi de 160 287 (5,91%). A doença de Alzheimer representa 50-70% dos casos de demência (entre 80 144 e 112 201 doentes). 



Principais Tipos de Demência


Doença de Alzheimer - É o tipo mais comum de demência (cerca de 60% de todos os casos) e, apesar de não “fazer parte” do envelhecimento, trata-se de uma patologia que aumenta a sua prevalência com a idade. Afeta em primeiro lugar a memória e, posteriormente, outras competências cognitivas (funções cerebrais) como a linguagem, a atenção, a orientação e a capacidade de raciocínio. Como consequência surgem alterações no comportamento, na personalidade e na capacidade funcional que comprometem progressivamente as atividades de vida diária. Os níveis de progressão são bastante diferentes de pessoa para pessoa. 


Demência Vascular - A segunda forma mais comum resulta de uma deficiência no fornecimento de sangue ao cérebro, motivada por acidentes isquémicos transitórios (AIT) ou por doença dos pequenos vasos (isquémia lenta e progressiva) que podem causar: (i) alterações no córtex cerebral, afectando a aprendizagem, a memória e a linguagem (Demência por Multienfartes) ou (ii) alterações na substância branca (parte interna do cérebro), provocando lentidão e sonolência, labilidade emocional e incontinência urinária (Doença de Binswanger ou Encefalopatia Arteriosclerótica Subcortical). Este tipo de demência, geralmente, permite a preservação da personalidade e da consciência patológica (conhecimento da condição de doença). Alguns dos principais factores de risco  são a hipertensão arterial, o tabagismo, a diabetes e a hipercolesterolemia.


Demência de Corpos de Lewy - Este tipo de demência, com características semelhantes às doenças de Alzheimer e de Parkinson, é provocado pela degeneração e morte das células nervosas do cérebro (estruturas anormais que se desenvolvem dentro destas células - corpos de Lewy) e manifesta-se através dos seguintes sintomas: dificuldades de atenção e concentração, alucinações visuais e dificuldade na avaliação de distâncias (maior risco de quedas), estados confusionais e desorientação (temporários e flutuantes), tremores e rigidez muscular (Parkinsonismo). Dada a elevada sensibilidade ao medicamentos antiparkinsónicos e neurolépticos (medicamentos antipsicóticos), exige-se maior supervisão por parte de especialistas, para evitar efeitos secundários severos.


Demências fronto-temporais - São a terceira causa mais importante de demência no grupo de doentes com menos de 65 anos e resultam da perda progressiva de células nervosas do cérebro, localizadas nos lóbulos frontal e temporal. Manifestam-se através de três variantes distintas (sub-tipos) que se podem combinar/agrupar durante o processo degenerativo. As características de base comum são as alterações do comportamento e da linguagem, traduzidos essencialmente por: desinibição, apatia, perda de autocrítica, comportamentos repetitivos; e um discurso empobrecido e estereotipado, associado as parafasias (substituição de palavras por outras de contexto similar). Ao nível cognitivo estes doentes apresentam deterioração das capacidades executivas (planeamento, sistematização) e da atenção. Os problemas de memória aparecem mais tardiamente, tornando mais difícil o diagnóstico, muitas vezes só detectado após uma avaliação neuropsicológica detalhada.


Demência Frontotemporal - Trata-se do sub-tipo mais comum (Variante Frontal) e  manifesta-se através de alterações do comportamento social, com início insidioso, tornando as pessoas desinibidas (e sem crítica) ou apáticas (e sem expressão emocional). Surge, igualmente, uma diminuição do auto-cuidado e do interesse por actividades antes realizadas, bem como dificuldades de planeamento e organização espacial.             


Afasia Progressiva não-Fluente - Esta variante é caracterizada por alterações da linguagem (também insidiosas) que se manifestam através de um discurso espontâneo não fluente, dificuldades na articulação das palavras (hesitação, supressão, substituição e ausência) e perda a lógica gramatical.


Demência Semântica - Neste sub-tipo as pessoas apresenta um discurso fluente (contrário ao anterior), mas vazio. Para além da substituição de palavras por outras de contexto similar (parafrasias), podem perder a capacidade de compreensão, atribuição de significado e organização das palavras em frases. Em certos casos, surgem, ainda, prosopagnósia (incapacidade de reconhecer a identidade de faces familiares) e/ou agnosia de associação (incapacidade de reconhecer objectos familiares).


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