Quais as limitações da quimioterapia?
Embora a quimioterapia seja uma estratégia importante no tratamento da doença oncológica, apresenta algumas limitações.
1. Efeitos secundários
A quimioterapia não distingue entre células cancerígenas e células saudáveis. Por isso, também ataca células normais que se encontram em divisão celular, como as do folículo piloso, do trato gastrointestinal e da medula óssea. Esta ação sobre tecidos saudáveis está na origem de efeitos secundários como queda de cabelo, náuseas, fadiga e imunossupressão, que podem ter um impacto na qualidade de vida dos doentes. Contudo, é importante lembrar que os efeitos secundários da quimioterapia variam de tratamento para tratamento e podem manifestar-se de forma diferente em cada pessoa. O mesmo procedimento pode provocar reações distintas ou com intensidades variadas, consoante o organismo de cada paciente.
2. Resistência ao tratamento
Em alguns casos, as células cancerígenas podem desenvolver resistência à quimioterapia, tornando os medicamentos menos eficazes. Isto ocorre quando as células sofrem mutações, quando se habituam e se adaptam aos efeitos dos tratamentos. Nessas situações, o sucesso da quimioterapia é comprometido e, na maioria das vezes, é necessário mudar para outro tratamento com um mecanismo de ação diferente, capaz de contornar essa resistência.
3. Impacto no sistema imunitário
A quimioterapia pode enfraquecer o sistema imunitário ao afetar a medula óssea, onde são produzidas as células sanguíneas. Este efeito pode diminuir a produção de glóbulos brancos, que são fundamentais para as defesas do organismo. Como resultado, o corpo fica mais vulnerável a infeções e pode ser necessário adotar cuidados adicionais para proteger o paciente.
4. Limitações em alguns tipos de cancro
Embora seja eficaz em muitos tipos de cancro, a quimioterapia não funciona da mesma forma para todos os pacientes ou para todos os tipos de tumores. Alguns tipos de cancro podem ser mais resistentes ao tratamento e a quimioterapia pode não ser o tratamento preferencial em certos tumores.
5. Necessidade de abordagens terapêuticas combinadas
Na maioria dos casos, a quimioterapia não é suficiente por si só. É, frequentemente, necessária a sua integração com outras estratégias terapêuticas, como a cirurgia, a radioterapia, a imunoterapia ou as terapêuticas-alvo, para melhorar os resultados. Esta abordagem combinada pode tornar o tratamento mais complexo e, por vezes, mais agressivo, exigindo um acompanhamento multidisciplinar do paciente, ao longo de todos tratamentos.
6. Perda de fertilidade
A quimioterapia, ao interferir com células em divisão rápida, pode afetar os órgãos reprodutivos e comprometer a fertilidade. Em mulheres, pode provocar menopausa precoce, e, em homens, pode reduzir a produção de espermatozoides. Por isso, nos doentes em idade fértil, a preservação da fertilidade deve ser discutida antes do início do tratamento.
7. Recuperação lenta
A recuperação, após a quimioterapia, pode ser um processo progressivo e variável de pessoa para pessoa. Para além dos efeitos secundários imediatos, podem ocorrer alterações na energia, no bem-estar geral ou em algumas funções do organismo. Por isso, é importante um acompanhamento médico regular, que permita detetar e gerir eventuais efeitos tardios e apoiar uma recuperação saudável e eficaz.
Como é feita a quimioterapia?
A quimioterapia é administrada através de diferentes vias, dependendo do tipo de cancro, do estado de saúde do paciente e da abordagem selecionada pelo médico.
1. Via intravenosa
A forma mais comum de administração de quimioterapia é a intravenosa, geralmente através de uma veia no braço ou na mão. Em muitos casos, especialmente quando o tratamento é prolongado, pode ser utilizado um cateter com reservatório subcutâneo (como o Implantofix), que facilita o acesso venoso e reduz o desconforto associado a punções repetidas. Os medicamentos são administrados diretamente na corrente sanguínea. Este procedimento deve ser realizado em ambiente hospitalar ou em clínicas especializadas, com sessões que podem durar várias horas, consoante o protocolo terapêutico prescrito.
2. Comprimidos ou cápsulas (via oral)
Alguns medicamentos podem ser tomados por via oral, em forma de comprimidos ou cápsulas. Este método é mais cómodo, uma vez que o paciente pode fazer o tratamento em casa. Contudo, a eficácia da quimioterapia oral depende da adesão rigorosa à toma da medicação, nos horários e doses indicados.
3. Injeções (intramuscular ou subcutânea)
Em alguns casos, os tratamentos oncológicos podem ser administrados por injeção diretamente no músculo (via intramuscular) ou sob a pele (via subcutânea). Estas formas de administração são geralmente mais rápidas e apresentam menor risco de reações durante o procedimento.
4. Administração local
Em alguns tipos de cancro, os medicamentos podem ser administrados diretamente na área afetada. Este método é conhecido como quimioterapia local e pode ser feito por injeção no tumor ou por uma técnica específica, como a quimioterapia intratecal (no espaço ao redor da medula espinal), intraperitoneal (na cavidade abdominal) ou intravesical (na bexiga). Este método permite uma maior concentração de medicamentos na área do tumor, o que ajuda a reduzir os efeitos no resto do corpo.
5. Cateter ou implantofix
Para doentes que necessitam de tratamentos contínuos ou frequentes, pode ser implantado um dispositivo chamado cateter venoso central implantado, também conhecido como Implantofix. Este dispositivo é colocado sob a pele, geralmente na região do peito, e permite a administração dos medicamentos diretamente na veia, evitando punções repetidas e proporcionando maior conforto e segurança ao longo do tratamento.
6. Perfusão contínua
Alguns pacientes podem necessitar de quimioterapia contínua através de um dispositivo de infusão. Este dispositivo fornece uma dose constante de medicamentos durante um período prolongado e pode ser usado em casa ou no hospital. A perfusão contínua é útil em tratamentos que requerem dosagens pequenas, mas constantes, ao longo do tempo.
Cuidados a ter no processo de quimioterapia
Existem alguns cuidados a ter durante a quimioterapia para garantir que o tratamento é o mais eficaz possível, para minimizar os efeitos secundários e para ajudar na recuperação do paciente.
1. Monitorização dos efeitos secundários
A quimioterapia pode originar uma série de efeitos secundários, como infeções, náuseas, cansaço extremo, perda de cabelo e problemas digestivos. É importante que o paciente seja acompanhado de perto para detetar quaisquer reações adversas precoces e, assim, ajustar o tratamento ou administrar medicamentos de apoio.
2. Hidratação adequada
A quimioterapia pode desidratar o corpo, especialmente quando causa diarreia ou vómitos. Manter uma boa hidratação é crucial para ajudar a eliminar as toxinas do corpo e a manter os órgãos a funcionar adequadamente. Beber muita água e ingerir alimentos ricos em líquidos, como sopas, pode ajudar a manter o equilíbrio.
3. Alimentação equilibrada
Manter uma alimentação equilibrada, rica em proteínas, vitaminas e minerais, é essencial para ajudar o organismo a tolerar melhor os efeitos da quimioterapia e a recuperar mais rapidamente. Sempre que possível, devem ser privilegiados alimentos nutritivos e de fácil digestão. Em caso de sintomas gastrointestinais, como náuseas, azia ou mucosite, é aconselhável evitar alimentos irritantes, como os muito condimentados, ácidos ou excessivamente gordurosos.
4. Evitar substâncias tóxicas
Durante a quimioterapia, é importante evitar o consumo de substâncias como álcool, tabaco e drogas recreativas, que podem interferir com o tratamento e agravar os efeitos secundários. Além disso, certos medicamentos, suplementos e até alimentos aparentemente inofensivos podem interferir na eficácia da quimioterapia. Exemplos incluem o chá de hipericão (erva-de-São-João), que pode alterar o metabolismo de alguns fármacos, e a toranja, que pode interferir com a absorção de medicamentos. Por isso, qualquer medicação ou suplemento deve ser sempre discutido previamente com a equipa médica.
5. Proteção contra infeções
A quimioterapia pode enfraquecer temporariamente o sistema imunitário, tornando o organismo mais vulnerável a infeções. Para reduzir esse risco, é importante adotar algumas medidas simples no dia a dia, como lavar as mãos com frequência, especialmente antes das refeições e após estar em locais públicos, evitar o contacto próximo com pessoas doentes, ter atenção especial a pequenos cortes ou feridas, mantendo-os limpos e protegidos, e evitar, sempre que possível, ambientes muito cheios ou com pouca ventilação. Em alguns casos, o médico pode recomendar vacinas ou tratamentos preventivos, como fatores de crescimento ou antibióticos, consoante o tipo de quimioterapia e o estado geral do doente. Estas medidas ajudam a prevenir complicações e a manter o tratamento em curso com maior segurança.
6. Cuidados com a pele e cabelos
A queda de cabelo é um dos efeitos secundários mais visíveis da quimioterapia e, embora seja geralmente temporária, pode ser emocionalmente difícil para muitos doentes. Usar lenços, chapéus ou perucas são estratégias que ajudam a lidar com esta fase e a manter o conforto e a autoestima. Paralelamente, a pele pode tornar-se mais sensível, seca ou reativa durante o tratamento. É recomendável utilizar produtos de higiene e hidratação suaves, hipoalergénicos e sem fragrância, e evitar a exposição prolongada ao sol, recorrendo a protetores solares adequados.
7. Repouso adequado
O cansaço extremo é um dos efeitos mais frequentes da quimioterapia. Descansar é essencial para permitir que o corpo recupere e se adapte aos efeitos do tratamento, especialmente nos dias imediatamente após cada sessão. No entanto, sabe-se hoje que a prática de atividade física leve a moderada, sempre ajustada à condição de cada pessoa, pode ajudar a reduzir a fadiga, melhorar o humor, manter a força muscular e promover uma recuperação mais eficaz. O mais importante é ouvir o corpo, encontrar um equilíbrio entre o repouso e o movimento, e adaptar o ritmo diário às necessidades do momento. Caminhadas, alongamentos ou exercícios supervisionados podem ser benéficos, desde que haja orientação médica e seja respeitado o estado geral do paciente
8. Acompanhamento médico regular
Durante o tratamento, o paciente deve manter consultas regulares com o oncologista para avaliar a tolerância à quimioterapia, realizar exames de monitorização e ajustar o plano de tratamento, caso necessário.
9. Gerir o stress e a ansiedade
A quimioterapia pode ser emocionalmente desgastante e é comum que os pacientes sintam ansiedade ou medo ao longo do tratamento. Técnicas de relaxamento, como meditação, yoga ou psicoterapia, podem ajudar a reduzir o stress e a melhorar o bem-estar emocional durante este período difícil.
10. Manter uma rede de apoio
Ter o apoio de familiares, amigos ou grupos de apoio é fundamental durante a quimioterapia. A presença de pessoas queridas pode ajudar a melhorar o estado emocional do paciente e a lidar melhor com os desafios do tratamento.