Alergia alimentar: o que é, como tratar e prevenir

Uma alergia alimentar pode, em alguns casos, representar um risco grave para a saúde. Com um diagnóstico adequado e o devido acompanhamento clínico, é possível controlar a condição e evitar complicações. Saiba como agir e proteger-se. 

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Alergia alimentar

Um alimento pode ser inofensivo para uns e extremamente perigoso para outros. A alergia alimentar pode manifestar-se de forma inesperada e, sem o devido controlo, originar situações de emergência. 

Estima-se que esta condição afete até 10% das crianças e cerca de 5% dos adultos. Nos últimos anos, tem-se verificado um aumento da sua prevalência e gravidade, sobretudo em idade pediátrica. Ainda assim, com acompanhamento especializado, é possível gerir esta realidade com tranquilidade e segurança. 

Neste artigo, explicamos o que são as alergias alimentares, como se distinguem das intolerâncias, quais os alimentos mais frequentemente envolvidos, como é feito o diagnóstico e o que pode ser feito para prevenir e tratar reações adversas. 

Alergia alimentar: o que é? 

A alergia alimentar é uma reação do sistema imunitário que ocorre quando o organismo identifica, de forma incorreta, determinadas proteínas presentes nos alimentos, e que são toleradas pela maior parte das pessoas, como uma ameaça. Mesmo em quantidades muito pequenas, o contacto com o alimento pode desencadear sintomas que variam entre manifestações ligeiras e reações graves. Entre os sintomas mais comuns estão erupções cutâneas, comichão, inchaço nos lábios ou na garganta e dificuldade em respirar. Em casos mais severos, pode ocorrer anafilaxia, uma reação alérgica generalizada que requer assistência médica urgente. 

Alergia alimentar vs. intolerância alimentar: qual a diferença? 

Os termos “alergia alimentar” e “intolerância alimentar” são muitas vezes utilizados como sinónimos, mas referem-se a condições distintas, com causas, manifestações e riscos diferentes. 

  • Alergia alimentar: envolve uma resposta do sistema imunitário. O organismo interpreta uma substância inofensiva como uma ameaça e reage de forma imediata. 

  • Intolerância alimentar: ocorre quando o organismo reage de forma adversa a determinados alimentos. Pode estar relacionada com a dificuldade em digerir certos componentes, como acontece na intolerância à lactose, com o consumo excessivo de substâncias como a cafeína (que pode provocar taquicardia), ou ainda com reações de tipo tóxico, como a intoxicação escombróide, associada à ingestão de peixe contaminado por toxinas. Apesar de poder causar sintomas desconfortáveis, a intolerância alimentar raramente representa risco de vida. 

Ambas as condições podem provocar desconforto, mas diferem na gravidade, nos mecanismos envolvidos e nos riscos associados. Distinguir uma alergia alimentar de uma intolerância é fundamental para definir o tratamento mais adequado e os cuidados a seguir. Enquanto a alergia exige, muitas vezes, a eliminação total do alimento e a disponibilidade de medicação de emergência, a intolerância pode ser gerida através de quantidades controladas ou alternativas alimentares. Por isso, o diagnóstico deve ser sempre realizado por um médico especialista, com base na história clínica detalhada e em exames complementares. 

Que tipos de alergias alimentares existem? 

A forma mais clara de classificar as alergias alimentares é com base no tipo de resposta do sistema imunitário. 

Alergia IgE-mediada: a mais comum e imediata 

Este é o tipo de alergia alimentar mais frequente, tanto em crianças como em adultos, e é o que normalmente associamos a reações rápidas e visíveis. O que acontece é que o organismo produz um tipo de anticorpos chamado IgE, que reconhece certos alimentos como ameaças e reage de forma excessiva. 

Os sintomas aparecem pouco tempo depois da ingestão do alimento, geralmente até duas horas, e podem afetar várias partes do corpo: 

  • Pele: comichão, borbulhas, inchaço. 

  • Sistema digestivo: dor abdominal, vómitos. 

  • Sistema respiratório: pieira ou dificuldade em respirar. 

  • Sistema cardiovascular: tonturas, queda da tensão arterial. 

  • Em casos mais graves, pode ocorrer anafilaxia, uma reação alérgica generalizada e potencialmente fatal. 

Nas crianças, os alimentos mais envolvidos costumam ser o leite de vaca, o ovo, o trigo e os frutos secos. Nos adultos, a prevalência é maior para marisco, peixe e frutos secos, embora outros alimentos também possam estar implicados. 

O diagnóstico é feito com base na história clínica e pode ser confirmado através de testes específicos, como o teste por picada (prick test) ou a análise de IgE específicas no sangue. 

Alergia não IgE-mediada: mais silenciosa, mas também importante 

Neste tipo de alergia, o corpo reage de forma diferente. A resposta não envolve anticorpos IgE, mas sim outras células do sistema imunitário. Os sintomas tendem a surgir de forma mais tardia, várias horas depois de comer, e são, na maioria dos casos, gastrointestinais. 

  • Vómitos 

  • Diarreia 

  • Dor abdominal 

Quando estas reações acontecem de forma repetida ou prolongada, podem prejudicar a absorção de nutrientes e, nas crianças, afetar o crescimento e o bem-estar geral. 

Estas alergias são particularmente relevantes nos primeiros meses de vida. Um exemplo muito comum é a proctocolite alérgica (ou retocolite hemorrágica), que pode surgir mesmo em bebés que estão apenas a ser amamentados. Nestes casos, é necessário que a mãe elimine da sua alimentação todas as fontes de proteína do leite de vaca. 

O diagnóstico baseia-se na história clínica, já que os testes tradicionais costumam revelar-se negativo. A confirmação costuma passar por eliminar o alimento suspeito e observar a melhoria dos sintomas. A boa notícia é que, na maioria dos casos, este tipo de alergia desaparece com o crescimento da criança. 

E quando só há sintomas na pele? 

Por vezes, os únicos sinais de uma alergia alimentar são cutâneos, como comichão, borbulhas ou inchaço. Mas isso não significa que a alergia seja “só da pele”. Qualquer alergia alimentar pode manifestar-se apenas através da pele ou envolver outros sistemas ao mesmo tempo. O importante é perceber que o tipo de alergia depende da resposta imunitária envolvida, não da parte do corpo onde os sintomas aparecem. 

5 alimentos que podem provocar reações 

Estes alimentos estão entre os principais responsáveis por reações alérgicas alimentares, muitas vezes graves. 

Alergia a frutos secos 

A alergia a frutos secos - como amendoins, nozes, amêndoas ou avelãs - é uma das formas mais frequentes e potencialmente graves de alergia alimentar. Em muitos casos, basta a exposição a pequenas quantidades ou vestígios destes alimentos para desencadear uma reação intensa, que pode evoluir para anafilaxia. Por isso, a leitura cuidadosa dos rótulos e a adoção de precauções em ambientes como escolas ou aviões tornaram-se práticas fundamentais para quem vive com esta condição. 

Este tipo de alergia tende a persistir ao longo da vida e exige um plano de emergência bem definido. Para além da eliminação rigorosa do alimento (evicção alimentar), muitas pessoas devem ter sempre consigo adrenalina autoinjetável e informar familiares, amigos e colegas sobre a condição. Neste caso, a prevenção é, de facto, uma medida vital. 

Alergia a marisco e peixe 

O marisco e o peixe estão entre as causas mais frequentes de alergia alimentar em adultos, embora também possam afetar crianças. Os sintomas podem surgir de forma súbita, mesmo em pessoas que anteriormente toleravam bem estes alimentos. A exposição não se limita à ingestão direta; o simples contacto com o vapor libertado durante a cozedura pode desencadear reações, o que torna esta alergia particularmente desafiante no dia a dia. 

Importa esclarecer que a alergia ao peixe e a alergia ao marisco são causadas por proteínas diferentes. Por isso, uma pessoa alérgica ao peixe pode, muitas vezes, consumir marisco sem problema, e vice-versa. Ainda assim, é comum haver confusão, levando alguns doentes (por vezes até por recomendação médica) a evitar ambos os grupos, o que pode implicar restrições alimentares desnecessárias. Um diagnóstico preciso, feito por um profissional com experiência em alergologia, é essencial para evitar estas limitações injustificadas. 

As manifestações incluem urticária, vómitos, dificuldade respiratória e, nos casos mais graves, anafilaxia. Tal como em outras alergias graves, o diagnóstico precoce, a evicção alimentar adequada e a sensibilização das pessoas mais próximas são fundamentais para garantir uma resposta eficaz em caso de emergência. 

Alergia ao ovo 

A alergia ao ovo é uma das mais comuns em crianças pequenas, embora tenda a desaparecer com a idade em muitos casos. As reações podem ser desencadeadas tanto pela clara como pela gema, e a gravidade varia de pessoa para pessoa, desde urticária leve até episódios mais graves, como anafilaxia. 

Como o ovo é um ingrediente comum em muitos alimentos processados, sobremesas e até vacinas (em alguns casos), o seu controlo exige atenção redobrada. É essencial que pais, educadores e cuidadores estejam informados, sobretudo em contexto escolar, onde as partilhas alimentares são frequentes. 

O diagnóstico precoce e a reavaliação médica periódica ajudam a perceber se a alergia persiste ou se é possível reintroduzir o alimento com segurança, em ambiente controlado. 

Alergia ao leite de vaca 

Tal como o ovo, o leite de vaca é uma causa frequente de alergia na infância, podendo manifestar-se mesmo em bebés ainda em amamentação exclusiva (através da alimentação da mãe). Os sintomas vão desde manifestações gastrointestinais, como cólicas, vómitos ou sangue nas fezes, até sinais cutâneos ou respiratórios. Nos casos mais graves, pode ocorrer anafilaxia. 

Esta alergia é muitas vezes confundida com intolerância à lactose, mas são problemas diferentes. Enquanto a intolerância está ligada à digestão do açúcar do leite, a alergia envolve uma resposta do sistema imunitário à proteína do leite. 

A maioria das crianças supera esta alergia com o tempo, mas, até lá, é necessário evitar rigorosamente todos os produtos lácteos e garantir que a alimentação continua equilibrada. Nestes casos, o apoio de um nutricionista pode fazer toda a diferença. 

Como se testam as alergias alimentares?

Apesar de existirem vários testes clínicos que ajudam a identificar alimentos responsáveis por reações alérgicas, é importante notar que estes não são testes de rastreio generalizado. Só fazem sentido quando há sintomas que levantam suspeita de alergia a um alimento específico, devendo ser sempre realizados no contexto de uma avaliação médica. Eis os principais testes disponíveis. 

  • Teste por picada

  • Teste de contacto

  • Prova de provocação

  • IgE específicas séricas

Intolerâncias alimentares: quais as mais frequentes e como diagnosticar 

Nem todas as reações a alimentos significam alergia. Em alguns casos, o organismo reage de forma adversa sem envolver o sistema imunitário — são as chamadas intolerâncias alimentares. As intolerâncias são relativamente comuns, variam de pessoa para pessoa e, embora não representem risco de vida, podem comprometer o bem-estar no dia a dia. 

A mais frequente é a intolerância à lactose, provocada pela dificuldade em digerir o açúcar naturalmente presente no leite e seus derivados. Isso ocorre devido à deficiência ou ausência da enzima lactase. Os sintomas surgem habitualmente minutos a horas após o consumo e incluem inchaço abdominal, gases, cólicas, náuseas e, por vezes, diarreia. É importante distinguir esta condição da alergia ao leite, que pode causar reações graves. A intolerância à lactose, embora desconfortável, não representa perigo imediato. 

Além da lactose, há outras intolerâncias alimentares comuns, como ao glúten (em pessoas que não têm doença celíaca, mas sentem desconforto após consumir trigo, cevada ou centeio), à frutose ou a certos aditivos alimentares.  

A identificação destas reações pode ser desafiante, especialmente quando os sintomas são inespecíficos ou ocorrem de forma intermitente. Apesar de existirem diversos testes de intolerância alimentar, é importante referir que, com exceção do teste de intolerância à lactose, não há evidência científica que valide a maioria destes métodos. Por isso, a sua utilização pode gerar confusão ou levar a interpretações erradas se não forem devidamente enquadrados por profissionais de saúde. 

Como tratar alergias alimentares 

Atualmente, não existe uma cura definitiva para as alergias alimentares. No entanto, com o acompanhamento certo, é possível controlá-las de forma eficaz e segura. O primeiro passo é o diagnóstico médico, habitualmente realizado por especialistas em Imunoalergologia, através de testes cutâneos, análises ao sangue ou provas de provocação alimentar em ambiente clínico controlado. Após a identificação do alergénio, a principal medida é evitar completamente o alimento em causa. Embora pareça simples, esta tarefa pode ser desafiante, já que muitos alergénios estão presentes em ingredientes menos evidentes. Por isso, é fundamental aprender a ler rótulos com atenção rigorosa. Em casos de alergias graves, é essencial ter sempre consigo um plano de emergência, que pode incluir anti-histamínicos ou adrenalina autoinjectável. 

Com informação, vigilância e apoio clínico adequado, é possível viver com uma alergia alimentar de forma tranquila e segura. Muitas escolas, restaurantes e espaços públicos estão hoje mais sensibilizados para estas condições, facilitando a gestão no dia a dia. 

Alergia alimentar: perguntas frequentes

Damos de seguida resposta a algumas das dúvidas mais frequentes sobre alergias alimentares.  

  • 1. É possível desenvolver uma alergia alimentar em adulto, mesmo sem historial anterior?

  • 2. As alergias alimentares podem desaparecer com o tempo?

  • 3. Existe risco de reação alérgica mesmo com quantidades mínimas de um alimento?

  • 4. Alergia alimentar e choque anafilático: como saber se estou em risco?

  • 5. Posso prevenir alergias alimentares no meu filho através da alimentação na gravidez?

  • 6. As vacinas ou medicamentos podem conter alergénios alimentares?

Tratamento de alergias alimentares com a Joaquim Chaves Saúde 

Viver com uma alergia alimentar — ou até com a suspeita de uma — pode ser desafiante, sobretudo quando não se sabe bem por onde começar. Na Joaquim Chaves Saúde, vai encontrar uma equipa especializada em Imunoalergologia preparada para o ajudar a identificar com precisão a origem das reações alérgicas, auxiliar na gestão diária da sua condição e garantir o controlo dos sintomas, mesmo em situações mais complexas.  

Se sente desconforto após ingerir certos alimentos, se tem um filho com sintomas recorrentes ou se apenas quer esclarecer dúvidas com especialistas, estamos aqui para si. Marque a sua consulta e comece hoje mesmo a cuidar da sua saúde com segurança, confiança e tranquilidade. 

 

 

Equipa clínica

Temos uma equipa de médicos e profissionais de saúde, especialista em diversas áreas, disponível para lhe dar o acompanhamento de que necessita.

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